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Qual é o Impacto do Turismo? Reflexões Sobre Cidades, Gentrificação e Viajantes Responsáveis


O jogo da especulação imobiliária, todos conhecemos. A desapropriação de espaços para construção de prédios, empresas ou comércios mais lucrativos é comum em todas as grandes cidades. E, cada vez mais, o turismo se envolve com isso — direta ou indiretamente. Esse é o verdadeiro impacto do turismo.


O impacto do Turismo nas cidades Europeias


Observo muito, em Barcelona, faixas que dizem “Barcelona não está à venda” e “Salve Barcelona” (ou Drassanes, ou Para-lel, ou Sants). No início eu não entendia o que isso tinha a ver com turismo ou com especulação imobiliária. Hoje faz todo sentido.

impacto do turismo
Turistas em Lisboa

Esses dias fui a um bate-papo com o fotógrafo Rafa Badia e uma editora de um site de reflexão sobre imagem. O tema era fotografia de viagens, mas a conversa foi muito além. Rafa contou de suas viagens a Paris nos dias atuais e nos anos anteriores:“Antigamente você ia a Paris para comer queijo. Hoje em dia lá tem pizza, pasta e kebab no mesmo restaurante, e um McDonald’s do lado.”


Ele mostrou fotos das viagens em diferentes épocas — e as diferenças são gigantes, o que significa que estão cada vez menores. “A fotografia é o símbolo do tempo. Cada vez as cidades parecem mais iguais e as pessoas se vestem mais iguais”, observou.


Nas cidades pelas quais passei, sempre busquei me aproximar dos moradores para entender o cotidiano e viver a cidade de forma real. Em Lisboa eu tinha a vantagem de falar o idioma. Estava com a minha amiga na Igreja da Sé quando começaram a nos oferecer passeios em Alfama por preços absurdos. Ignoramos todos e fomos a pé.


impacto do turismo no nosso olhar
Estamos vendo o mundo ou através de uma câmera?

Nas Portas do Sol, paramos uma portuguesa de aproximadamente 35 anos para pedir informação. Conversamos muito e ela comentou que Alfama “já não era Portugal de verdade”. Perguntou se não queríamos um passeio típico no bairro Mouradia. Claro que aceitamos.


Gentrificação na prática


Conhecemos tabernas, bebemos Ginjinha, comemos comida tradicional. Ela nos contou histórias e lendas do bairro, inclusive a de Maria Severa, a primeira mulher a cantar fado em Lisboa. Também conhecemos a amiga dela, que é fadista. Foi o melhor dia possível em Lisboa. Eu me apaixonei pela cidade de um jeito inexplicável.

impacto do turismo na natureza
E qual o impacto do turismo na natureza?

Fomos com ela até o Rossio, porque ela queria nos levar à Casa do Alentejo. Na transição de bairros, é impossível não notar a diferença: muitas construções novas, restaurantes, reformas… Foi então que ela se emocionou ao dizer:


“Aqui também era como a Mouradia. Agora as tabernas e os lugares onde os portugueses se reuniam para conversar e tomar ginja estão sendo trocados por hostels e Subways.”

De volta a Barcelona, uma amiga me perguntou da viagem. Eu disse que foi ótima, mas que estava feliz de estar de volta, porque não há um lugar como Barcelona para se morar. Ela torceu a cara:“É, todo mundo acha isso. Nada contra… mas parece que a cidade está sendo moldada para o turista, e não para quem vive aqui.”


Ela tem razão. Mas não é só Barcelona. E foi morando numa cidade tão turística que comecei a perceber o turismo — inclusive o meu — de maneira mais crítica.

O turismo está crescendo, e ele tem impacto. Viajar é bom, e devemos viajar cada vez mais, mas com responsabilidade. Hoje entendemos melhor o papel da sustentabilidade e seus três pilares: econômico, social e ambiental.


Responsabilidade do viajante no impacto do turismo


Muita coisa é responsabilidade das grandes corporações, hotéis e agências. Mas muita coisa é responsabilidade do viajante:Hospedar-se em lugares regulamentados, evitar construções em áreas de preservação, valorizar a gastronomia e os produtos locais, usar transporte público, não sujar o ambiente, reciclar, respeitar o espaço e a cultura dos moradores.


Nós somos parte do mundo que queremos construir — e o turismo pode ser ponte… ou pode ser destruição.

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